Do Congresso em Foco
A presidenta Dilma Rousseff intensificou na quarta-feira (12) a estratégia de defender seu mandato, diante das ameaças de impeachment, e disse em entrevista ao jornalista Kennedy Alencar, do SBT, que “jamais” pensa em renunciar. Depois de participar, em Brasília, da 5ª Marcha das Margaridas, evento que congrega mulheres do campo, Dilma lembrou que está no cargo “legitimamente”, por meio do voto popular, e que reagirá às investidas da oposição.
Na entrevista à TV, Dilma diz que há em curso no país uma onda de intolerância, mas principalmente por parte da elite, e um “clima” de golpe supostamente orquestrado por setores políticos. “Vejo uma tentativa bastante incipiente e muito artificial de criar um clima desse tipo”, declarou a petista, que mais foi recebida na marcha, em um estádio em Brasília, aos gritos de “Fora, Cunha”, referência ao presidente da Câmara, o novo oposicionista Eduardo Cunha (PMDB-RJ), e “Não vai ter golpe”. Embora negue recorrentemente, Cunha tem preparado o terreno para facilitar um processo de impeachment contra a presidente, como este site revelou em 17 de julho, dia em que o peemedebista anunciou rompimento com o governo.
No evento, Dilma fez o discurso de encerramento e citou trecho da música do cantor e compositor Lenine para demonstrar que está firme no cargo. “Ergo o meu copo e celebro os bons momentos da vida / E nos maus tempos da lida / Eu invejo, mas não quebro”, disse a presidenta, também citando frase de político Carlos Lacerda (1914-1977) à época do golpe urdido contra o ex-presidente Getúlio Vargas (1882-1954).
“O senhor Getúlio Vargas não deve ser candidato à Presidência. Candidato, não deve ser eleito. Eleito, não deve tomar posse. Empossado, devemos recorrer à revolução para impedi-lo de governar”, repetiu Dilma, em reconstrução histórica para afirmar que “sistematicamente houve tentativa de golpe contra todos os presidentes”.
As aparições cada vez mais constantes de Dilma fazem parte da estratégia do governo para se contrapor às manifestações do próximo domingo (16), quando estão marcados protestos por todo o Brasil em que um dos motes é justamente o impeachment presidencial. Como registra reportagem veiculada no site do jornal O Estado de S. Paulo, a petista ensaiou um reconhecimento por seus erros à frente do país, mas tergiversou:
“Não acho que errei, não. Acho que sou completa, inteiramente humana. Posso ter cometido vários erros, mas o erros não são esses que eles [adversários] falam”, argumentou a presidenta, que tem contado com o acordo costurado pelo vice-presidente da República, Michel Temer, junto ao Senado. Ao contrário da “pauta-bomba” ativada na Câmara, Dilma contará com a discussão de proposições mais populares patrocinada pelo presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), que elaborou a “Agenda Brasil” para combater a crise econômica.