Leandro Fortes- Jornalista, escritor e professor. Sócio fundador da agência de publicidade e marketing digital CobraCriada.
Essa história de frente ampla, nos moldes do movimento das “Diretas Já!”, é a história se repetindo como farsa. O que está em curso é a reorganização dos interesses da burguesia nacional diante de um processo de recrudescimento autoritário sobre o qual ela não tem controle.
Assim, as mesmas figuras nefastas que organizaram o golpe parlamentar que retirou Dilma Rousseff do poder, em 2016, sob o falso argumento udenista de combate à corrupção, agora tentam montar uma tertúlia desesperada para arrancar Jair Bolsonaro do Palácio do Planalto, mas sem macular o que realmente lhes interessa: a agenda neoliberal criminosa que prevê a destruição do patrimônio nacional e o fim dos direitos dos trabalhadores, no Brasil. Aí incluído o Sistema Único de Saúde, em plena pandemia da Covid-19.
Neste cenário, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva fez uma declaração contra hegemônica, muito ao seu estilo político, lembrando que há algo de podre nesse piquenique cívico aparentemente ecumênico, do qual pretendem se fartar figuras lamentáveis como Fernando Henrique Cardoso, Michel Temer e Luciano Huck.
Assim falou Lula: “Li os manifestos e acho que tem pouca coisa de interesse da classe trabalhadora. Não se fala em classe trabalhadora, nos direitos perdidos”.
Dúzias de colunistas isentões da mídia comercial, muitos dos quais diretamente culpados pela eleição do demente que ora nos governa, saíram de suas quarentenas gourmets para atacar o ex-presidente e acusá-lo de intolerância. Claro, com o auxílio luxuoso da esquerda namastê, esta que vislumbrou nesse gelatinoso movimento “Somos 70%” uma espécie de ciranda ideológica celestial em nome da paz, do amor e da harmonia entre os homens.
Lula, por sua vez, com a casca grossa de quem conhece tanto o chão da fábrica como as trevas da política brasileira, depois de duas prisões políticas, foi enfático: não tem mais idade de ser maria-vai-com-as-outras, e, acreditem, houve quem o acusasse de machismo por usar essa expressão.
Uma frente ampla contra o fascismo terá que ser feita, quanto a isso, não existem dúvidas. Mas para ser uma nova micareta liberal, como as tais “jornadas” de 2013, movimento imediatamente capturado pela mídia e pela direita golpista, melhor enfrentar Bolsonaro até o fim.
Lula, para variar, está certo.