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José Cícero Lima entrevistado por Djalma Rodrigues |
Do blog de Djalma Rodrigues
Aos 83 anos, o ex-empresário José Cícero Lima, o seu Dedi, tem uma história novelesca, repleta de desafios, vitórias, fracassos amorosos e uma grande decepção, por conta da desatenção da família para com os seus problemas atuais. Interno do asilo Lar Pouso da Esperança, na Cohab, instituição mantida pelo governo do Estado, Dedi passa os dias mergulhado na leitura da Bíblia. Diz que isso lhe traz alento e o afasta de pensamentos negativos, impedindo a depressão.
Os olhos miúdos e azuis perscrutam o interlocutor como a fazer uma constante leitura de seus pensamentos. A conversa flui com muita loquacidade. Conta sua história ao blogueiro entrecortando fatos e datas com uma linha de raciocínio impressionante para a idade.
Agrônomo, mostra-se até agora um homem inquieto, que trabalhou até na Venezuela, onde foi chamado para implantar um projeto de plantação de cana de açúcar, visando disseminar essa cultura no país de Hugo Chaves. Diz que foi proprietário de pelo menos seis pontos comerciais em São Luís, de uma linha de ônibus que fazia o trajeto da Maioba ao Mercado Central.
Revela que a grande virada de sua vida aconteceu no final do ano passado, quando vinha numa van de Itapecuru para a capital. Um acidente que lhe deixou sem uma das pernas veio lhe mostrar a verdadeira face da humanidade.
“Entrei em coma e quando recobrei os sentidos, estava neste asilo. Perdi tudo. Dos 12 filhos que registrei e criei, descobri que seis deles foram frutos da traição das minhas duas ex-mulheres”, ressalta Dedi, que agora tem projeto para liderar uma igreja evangélica na área da Vila Magril.
A HISTÓRIA- Como um Forrest Gump tupiniquim, José Cícero Lima desfia sua história falando de forma entusiasmada, com algumas pausas quando esquece alguma data ou nome que de personagens que ilustram a sua epopeia. Filho de lavradores, nasceu em 14 de maio de 1928, na cidade de Araioses.
“Viemos para São Luís em 1933, quando o Maranhão passava por grande turbulência política. Acompanhei, com atenção, mesmo sendo criança, a posse de Paulo Ramos como interventor, durante o governo de Getúlio Vargas. Paulo Ramos deu grande impulso ao Estado, foi um governante de pulso forte e de uma grande sensibilidade. Nessa época, morávamos na Rua da Vitória, ali próximo ao Caratatiua, número 278”, ressalta Dedi, fazendo um rápido esforço de memória.
Ele desfia um pouco do fio da história de São Luís, ao revelar que onde hoje funciona o PAM Diamante, mesmo nome do bairro onde está sediado, foi uma escola agrícola, onde se formou, após uma intensa luta para entrar como aluno, quando tinha apenas 13 anos.
O nome Diamante é em razão de terem sido encontradas várias dessas pedras preciosas, durante as escavações para a construção do prédio, conforme José Cícero Lima.
“Fui atraído para o prédio por conta de uma multidão de jovens, perguntei o que estava ocorrendo e fui informado de que ali iria funcionar um colégio agrícola, por determinação do presidente Getúlio Vargas, onde os alunos teriam roupa, alojamento e uma ajuda de custo em dinheiro e que seria dirigido pelo professor Júlio Nascimento”, diz Dedi.
Afirma o interno, que procurou o secretário que estava fazendo a seleção e acabou sendo escorraçado da sala. Procurou, então, outro professor que não lhe deu muitas esperanças, mas o orientou que procurasse, no João Paulo, uma senhora de nome Adélia, noiva de Júlio Nascimento.
De Adélia, recebeu passe livre para o contato com Júlio Nascimento, sua última esperança, para que fosse indicado para fazer o seletivo. No encontro com Júlio, também não teve incentivo, mas recebeu apoio para que fosse inserido no grupo para ser submetido ao exame de admissão.
Aprovado, diz que isso soou como a grande vitória de sua vida. Revela que esteve também como presidente da Associação dos Produtores Agrícolas da Cidade Operária (APACO), onde trabalhou com os ex-deputados estaduais Pavão Filho e Alberto Franco, que nunca o visitaram no asilo.
Sua experiência no exterior, na cidade de Letícia, na Venezuela, foi por conta de um convite feito por um sargento da Marinha, de nome Thomas. O objetivo era iniciar ali a produção de açúcar mel e cachaça, mas o projeto naufragou por falta de entendimento quando às questões da remuneração.
Da Venezuela, esteve em Itapecuru-Mirim, coordenando um plantio de cana de açúcar. Foi de Itapecuru para São Luís que ocorreu o acidente que mudou sua vida por completo, em dezembro de 2010.
O ASILO E O ABANDONO- “Tenho uma filha, a Ana Maria, auditora do INSS, outra, a Diana, que é funcionária da Piripiri, o Moisés, é sargento do Exército, o Isaac é tenente da Polícia em Roraima, tenho ainda o José Cícero Lima Filho, que está se formando em direito. São, no total, 12 filhos. De dois casamentos, mas descobri, posteriormente que seis deles não são meus filhos biológicos”, ressalta Dedi, com o cenho franzido pela decepção.
Quando completou 80 anos, alguns dos filhos foram a Justiça, para que ele assinasse um documento se julgando incapaz de gerir seus bens, que se constituíam de seis pontos comerciais e um ônibus que fazia linha da Maioba para o Mercado Central.
O DESABAFO- “Tudo o que tinha eles (os filhos) me roubaram. Ajudei a todos, bancando seus estudos e o bem-estar de cada um e hoje, estou aqui, sendo bem tratado, mas sempre pergunto o que fiz para merecer tanto revés na minha vida”, desabafa Dedi, que apesar de tudo ainda alimenta muitos sonhos para o futuro.
AGRADECIMENTOS- Agradecimentos do blogueiro à diretora do Asilo, Ana Lúcia Azoubel e a equipe de enfermagem, composta por Keila Azevedo, Sandra Guimarães e às técnicas Rosângela, Leidiane e Jovina e ao fisioterapeuta Luiz Carlos Cardoso e ao maqueiro Alan.