|
Professor Cloves Saraiva e o aluno Nahu Ayuba |
O Ministério Público Federal denunciou na quarta-feira (21) à Justiça um professor da UFMA (Universidade Federal do Maranhão) por acusação de racismo, xenofobia e injúria racial a um estudante nigeriano.
O caso começou a ser investigado pela Polícia Federal em julho do ano passado, depois que alunos do curso de engenharia química fizeram um abaixo-assinado na internet que informava sobre agressões verbais contra um colega, o estudante Nuhu Ayuba.
No abaixo-assinado, alunos relatam que o professor José Cloves Verde Saraiva, 57, do departamento de matemática, disse por várias vezes ao estudante que ele "deveria voltar à África em um navio negreiro" e "clarear a sua cor".
Segundo o procurador da República Israel Gonçalves Santos Silva, 39, o inquérito, concluído em fevereiro, apontou a prática de condutas como racismo, xenofobia e injúria racial. A pena pode chegar a 15 anos de prisão.
O professor também terá de responder a uma ação por improbidade administrativa. De acordo com o procurador, Saraiva "quebrou deveres do serviço público federal, que é de não discriminar".
Procurado pela reportagem, o professor José Cloves Saraiva disse que foi "mal interpretado" e que nunca teve intenção de discriminar o aluno. "Deturparam muita coisa".
Saraiva diz que, na época, o comentário dos alunos era sobre o cantor Michael Jackson -- daí, segundo ele, a história sobre "clarear a pele". Ele não deu mais detalhes.
"Às vezes o próprio aluno comenta esse tipo de coisa. Depois fica como se fosse o professor", afirmou.
O docente também disse que errou a pronúncia do nome para "Nuru", o que gerou uma confusão. Ele nega a prática de racismo. "Jamais depreciei a cultura negra. Pelo contrário. Não poderia ofender porque também sou moreno."
'CORPORATIVISMO'- Além das denúncias, o MPF também irá monitorar se houve uma espécie de "corporativismo" por parte da comissão processante da universidade para defender o professor.Uma investigação interna, feita no ano passado, solicitou o arquivamento por falta de provas. O procurador do MPF Israel Santos critica a medida. "As provas eram contundentes. Estranhei o fato de a universidade dizer que não havia encontrado nada."
Em nota, a UFMA disse que a procuradoria jurídica da universidade não aceitou o arquivamento e irá abrir um novo processo para investigar se ocorreu um desvio de conduta do professor.