Fachada do prédio da Santa Casa de Misericórdia |
A realidade financeira da Santa Casa de Misericórdia de São Luís não é tão diferente das demais unidades de saúde filantrópicas do Brasil, a exemplo da grave crise econômica que se abateu sobre a Santa Casa de Misericórdia de São Paulo, que na última terça-feira (22) fechou os atendimentos de urgência e emergência, alegando falta de recursos.
Atualmente, a Santa Casa da capital maranhense ainda convive com uma dívida de R$ 3,5 milhões, oriunda da demora no repasse do Sistema Único de Saúde (SUS), cuja direção do hospital espera que seja debelada pela Prefeitura de São Luís no mais breve espaço de tempo possível, a fim de evitar o mesmo procedimento adotado pela direção da Santa Casa paulista, que é referência médica na América Latina.
Segundo o provedor da Santa Casa de Misericórdia de São Luís, o médico Abdon Murad, a unidade vem resistindo bravamente às fortes crises financeiras e que em muitos momentos parece paralisar os serviços de atendimento à população. Ele ressaltou que a dívida enfrentada pela realidade local não se compara com a situação econômica da Santa Casa de São Paulo. Apesar disso, Murad afirmou que é preciso revitalizar essas unidades filantrópicas que sobrevivem no país. “No momento, todas as Santas Casas de Misericórdia que atuam no país, contabilizam um débito de R$ 14 bilhões”, declarou.
Abdon Murad destacou que a Santa Casa de São Luís chegou na gestão do ex-prefeito João Castelo a acumular um débito de R$ 11 milhões de verbas não repassadas do SUS. Ele lembrou que isso quase fechou as portas da instituição filantrópica. “Castelo atrasou esse montante e somente na gestão da atual secretária municipal de Saúde, Helena Duailibe, é que esse débito foi reduzido. Quando ela assumiu a pasta, houve uma melhora considerável e hoje, ainda estamos com um débito de R$ 3,5 milhões a receber de repasse do SUS por meio da Prefeitura”, informou.
Abdon Murad destacou que a crise financeira só tem se agravado no país, pois ao longo de 12 anos a tabela do SUS não sofreu reajuste. Ele pontuou que um simples parto normal, com internação da paciente por dois dias, a Santa Casa de São Luís recebe apenas o valor de R$ 267,60. “Isso é um absurdo para um hospital que tem de pagar água, luz, telefone, servir café, lanche e ainda pagar seus profissionais. Só para se ter uma ideia, nesse caso o médico que faz o atendimento deve receber a quantia de R$ 175,00. Portanto, é um absurdo”, enfatizou.
O provedor da unidade citou também que uma internação de quatro dias por pneumonia, utilizando antibióticos fortes e fracos, o hospital recebe apenas R$ 504,07. “O médico recebe apenas R$ 78,35 por acompanhado diário de quatro dias, que ainda pode ser prorrogado por igual período, caso o paciente tenha complicações no seu quadro clínico. É muito pouco”, frisou.
Outro exemplo de internação citado pelo provedor da Santa Casa de São Luís é o caso envolvendo um paciente acometido de um acidente vascular cerebral (AVC). “Nesse caso, o paciente deve ter, no mínimo, oito dias de observação, sendo que pela tabela do SUS o hospital recebe apenas R$ 398,83 e o médico R$ 64,38. Isso sem falar no pagamento dos demais profissionais como enfermeiros e fisioterapeutas. Não dá para entender, é um absurdo mesmo”, criticou.
Abdon Murad disse que a atual realidade financeira no setor tem demonstrado que no Brasil houve uma redução de quase 13 mil leitos do SUS. “Guardadas as devidas proporções com a Santa Casa de São Paulo, a Santa Casa de São Luís também luta com extrema dificuldade, pois a medicina ficou mais cara, pois as tecnologias na área evoluíram e é por isso que existem vários hospitais que estão fechando as portas por falta de condições financeiras e de trabalho”, comentou.