EDITORIAL
Enquanto uma boa parcela da elite branca e conservadora comemora nesta quarta-feira, 7 de setembro, um tal grito de 200 anos de independência colonial do Brasil de Portugal, a grande senzala negra não tem muitos motivos para comemorar e nem participar desta festa de gala.
Mesmo depois de mais de 300 anos, a escravidão continua no país, travestida e disfarçada e moldada à nossa contemporaneidade, sendo os oprimidos constantemente massacrados pela mão pesada da "Casa Grande" e vítimas da miséria social, política, educacional, jurídica e por que não dizer, sobrevivendo na extrema pobreza e miséria, como seus originais, vindos da África mãe.
Simbolicamente, a elite conservadora assume euforicamente nos livros de história que a Independência do Brasil foi um grande marco, com o grito às margens do Rio Ipiranga (SP), em 1822, protagonizado por Dom Pedro I, durante seu primeiro reinado como imperador de um "novo" país.
Vale ressaltar que a tão alardeada Independência do Brasil não pode ser entendida como um fato isolado, pois segundo historiadores esse processo deve ser entendido como uma série de fatores que marcam a crise do sistema colonial e o avanço do capitalismo industrial na Europa, a partir do final do século XVIII para o início do século XIX.
Segundo fatos históricos, ao redor do mundo, o avanço do Iluminismo e do Liberalismo, por meio de uma série de processos revolucionários, em particular a Revolução Francesa, o período napoleônico, a Revolução do Haiti e a Independência dos Estados Unidos da América (EUA) foram sinais marcantes de transição social e política da época.
No entanto, o Brasil deixava de ser um território colonial, mas sem abandonar as velhas práticas de escravização do seu povo nativo. Os reflexos podem ser observados nitidamente até os dias atuais, mesmo depois de 200 anos de uma "Independência" que ainda não chegou para muitos dos seu filhos que não fogem à luta.