Por Mary Ferreira
Professora e pesquisadora da UFMA
Esta semana vários blogs se reportaram ao Partido dos Trabalhadores, mencionando suas disputas internas. Lembravam os anos oitenta, quando o PT era formado por estudantes que se contrapunham à imposições de filiados mais maduros cuja lógica partidária diferia dos jovens que queriam revolucionar o mundo. Lembraram dos conflitos dos anos noventa que giraram muitos deles em torno de Domingos Dutra e Washington Luiz que vinham das bases do PCdoB com todos os ranços de suas vivências comunistas de então.
Lembraram também dos momentos conflituosos que o PT viveu quando Lula impôs uma aliança com Sarney. Esta, com certeza, foi a fase mais difícil e dolorosa vivida pelos petistas. As resistências e os descontentamentos dramáticos e radicais foram traduzidos na greve de fome realizada pelos combativos companheiros: a ex-deputada federal Terezinha Fernandes, Domingos Dutra Manoel da Conceição.
Hoje, vivemos um momento semelhante e mais uma vez o PT volta às páginas de notícias com críticas às suas disputas internas. O que podemos analisar deste momento, quando o PT se divide em duas bandas e meia: de um lado, um grupo que apoia o senador Weverton Rocha (PDT), e de outro, o que apoia o governador Carlos Brandão (PSB). E dentro da candidatura de Brandão mais uma disputa que é a indicação do vice.
Como? Mais uma disputa, mas um racha? Não! Apenas mais uma divergência sobre a condução e encaminhamentos dado pela direção do PT. Assim surgiu a articulação “Movimento Petista de Base” que ousou pensar um projeto de fortaleciemento do PT recompondo seu projeto de interferir de forma mais direta nos destinos do Maranhão.
Nada de novo, muitos podem dizer. Mas, este grupo se forjou na contradição de como as forças petistas pensaram e materializaram o processo de escolha da vice-governadoria. Este movimento é enfático ao dizer: é preciso dialogar com as bases petistas para assim construir uma candidatura que seja referendada por todos. O que é isso? Sempre foi a forma como os petistas se colocaram, no Partido. Não deveria mais causar estranhamento, afinal um Partido de esquerda desta envergadura, com pensamentos que divergem – mas convergem – na condução do Estado, certamente que explicam esses conflitos.
O que destoa nessa “certeza” passada pela direção do PT?
Apenas a indicação do vice, uma vez que o Movimento Petista de Base lançou o nome do Deputado Zé Inácio. O fez por considerar que este agrega as condições de construir um projeto de gestão ao lado de Carlos Brandão para assim visibilizar as pautas historicamente defendidas pelo PT.
Esse grupo respeita a aliança com o PSB, por considerar Flavio Dino (PSB) um aliado importante na luta contra os fascismos, na luta pela erradicação da pobreza no Maranhão, considera e reconhece os avanços conquistados na sua gestão, mas, considera também, que o PT tem um projeto de desenvolvimento para o Maranhão e quer trabalhar na consecução deste projeto.
Este projeto não terá eco sem o protagonismo de um petista histórico que conheça as bases e as entranhas do Partido e que saiba dialogar com suas contradições, seus anseios e sonhos. Daí o porquê da indicação do Deputado José Inácio.